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Você já viu essa imagem: um cachorro vestido de astronauta solto pelo espaço. Seu nome era Laika e em 1957 ela embarcou na nave espacial russa Sputnik 2. Pela primeira vez, um terráqueo pode ver o planeta de cima. O mundo é um lugar diferente deste ponto de vista. Vê-lo de cima é um privilégio. Em meio ao tédio de nuvens e oceanos, há uma civilização de luzes amarelas. Misturar tanta gente num mesmo quilômetro quadrado é um verdadeiro milagre. A evolução nos levou a uma vida tribal. E tribal não significa primitivo, mas família estendida. Imagine um habitante da savana africana, há 58 mil anos. Aqui, diversidade significa ameaça. Aquele que não compartilha seus valores indica ser membro de outra tribo e um risco à sua existência. Foi assim que nos organizamos por centenas de milhares de anos: rejeitando as diferenças; entendendo que o preconceito tem a função de nos proteger das ameaças que outros grupos representam. Há dez mil anos, o mundo começou a ficar melhor, e menor. A agricultura, o comércio e o surgimento das cidades nos obrigaram a conviver com outras tribos. É da palavra cidade a origem de civilidade. O problema é que nosso cérebro é basicamente o mesmo do tempo das savanas. Fomos treinados a rejeitar as diferenças. O convívio plural em sociedades multiculturais é uma luta contra nossa própria natureza. Mas este conflito é necessário. Voltar ao isolamento não é uma opção. A má notícia é que quanto mais a interação humana é guiada por algoritmos, maior é a restrição das nossas tribos. O Sputnik foi o primeiro satélite artificial da Terra. Hoje, outros quase 9 mil já foram lançados, nos dando telefonia, televisão e GPS, além de prometer revolucionar a forma como nos conectamos à internet. Se algoritmos aprisionam as tribos, satélites reaproximam a humanidade. É este o propósito do Spotniks: navegar na contramão das redes, mudar o fluxo da correnteza das ideias, promover o diálogo entre as tribos, implodir os algoritmos, saltar para enxergar o mundo de cima.